domingo, 19 de maio de 2019

PEDRA DA GÁVEA


Pedra da Gávea e Charles Darwin



A Pedra da Gávea de 843 m de altitude é um imenso bloco de pedra composto por granito e gnaisse, situado no setor C do Parque Nacional da Tijuca, entre as praias de São Conrado e Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, tornando-se um dos monólitos mais altos do mundo à beira mar. Segundo o professor e arqueólogo Carlos Manes Bandeira “sua configuração no frontal apresenta uma semelhança com um rosto humano portando longa barba, levando a ser chamada de Cabeça do Imperador (D. Pedro II)”. Possui ainda, esculpido pelo tempo, um componente intrigante provocado pela erosão natural que é uma das forças mais poderosas da natureza, o que deu origem a idéia de que fossem “inscrições fenícias”, mas que comprovadamente não o são.
Imperador D. Pedro II (1825-1891) Brasil

O nome Pedra da Gávea remonta ao tempo das primeiras expedições oficiais portuguesas enviadas ao Brasil pela Coroa, com o objetivo de explorar a recém descoberta costa brasileira. Contam que para os navegantes portugueses, a famosa pedra que termina no mar assemelhava-se ao cesto da gávea, onde sempre havia um vigia de plantão. E por conta de sua localização e formato sempre foi uma referência para os navegadores.   

Lembra-se da expressão “terra à vista!”? Uma das funções mais importantes no tempo das grandes navegações era a do marujo. Instalado no “cesto da gávea”, no alto do mastro principal das embarcações, além de buscar sinais de terra na linha do horizonte, ele estava sempre atento para os perigos que pudessem surgir no mar, como monstros, serpentes, sereias ou abismos. E aos ataques e assaltos de embarcações inimigas no mundo visível. Portanto, “cesto da gávea” onde o vigia devia ficar era um cesto de observação que passou simplesmente a ser chamado de gávea.

Por outro ângulo, a Pedra da Gávea quando observada a distância, assemelha-se a uma vela inflada das embarcações utilizadas na era dos grandes descobrimentos. O Reverendo Daniel Parish Kidder, missionário norte-americano que facilmente se apaixonou pelas belas paisagens naturais do Rio de Janeiro, na primeira metade do século XIX, prestou importante contribuição histórica quando escreveu sobre a origem do nome Pedra da Gávea: 
Pedra da Gávea e São Conrado - Rio 

 “Ao centro e a grande distância, vê-se um imenso tronco de cone granítico. Vista a distância, essa montanha assemelha-se à primeira vela de topo do mastro dianteiro dos veleiros, daí seu nome Gávea.” (Reminiscências de viagens e permanência no Brasil, 1845.)

Um dicionário informal confirma as palavras do Missionário Daniel Kidder. Em uma das duas definições encontradas está escrito que gávea também é o “nome de uma vela quadrada que ocupa o lugar imediatamente superior à vela grande, de um navio veleiro. A gávea é uma vela muito importante numa embarcação à vela.” Sendo assim, seria mais provável, que a origem do nome não provenha do “cesto” da gávea, e sim da primeira “vela” de topo do mastro dianteiro dos antigos veleiros.

Independente da origem exata do nome, pela sua altura, fama e pelas paisagens de tirar o fôlego que proporciona aos freqüentadores da trilha íngreme que leva ao seu topo, a Pedra da Gávea é um imponente monumento natural do Brasil, cercado de lendas e fantasias. Triste, porém, é o fato de ser palco de muitos acidentes fatais e, recordista, junto com a vizinha Pedra Bonita, de assaltos aos excursionistas durante caminhadas realizadas aos sábados e domingos, sem que uma solução definitiva seja encontrada por parte das autoridades públicas e da administração do Parque.
Cabeça do Imperador - Pedra da Gávea.
É importante destacar, que o cuidado de não andar sozinho pode não ser uma tática eficiente para impedir a abordagem de criminosos armados de revolver e facão. Essas quadrilhas que atuam nas trilhas mais freqüentadas por turistas são especializadas em assaltar grupos para conseguirem o maior lucro possível.

Antes de decidir por qualquer trilha no Rio de Janeiro, o excursionista tem que se informar para não se meter numa triste aventura, e ser mais um na estatística da violência no Rio. Agora, se você pretende ser um freqüentador assíduo das trilhas cariocas procure manter-se atualizado sobre quais trilhas estão mais seguras para se fazer a caminhada de baixo risco.  Não existe trilha 100% segura na querida Cidade Maravilhosa, infelizmente. Aguardamos dias melhores.

Além de recordista em assaltos, a Pedra da Gávea, sempre foi palco de muitos acidentes graves e vários escaladores lá perderam a vida quase sempre motivados pela desatenção, faltas de preparo físico, agilidade e percepção de risco. No caso da trilha bem íngreme que começa na Barra da Tijuca com cerca de 2.600 m de extensão, obstáculos rochosos e “escalaminhada”, é o total desconhecimento de técnica de escalada em rocha e a baixa tolerância para exposição demorada à altura no trecho mais difícil do trajeto, que é a famosa “carrasqueira”.

Carrasqueira - Pedra da Gávea - RJ
Muitos chegam à “carrasqueira”, exaustos, desidratados e quase vencidos pela dureza da caminhada depois de cerca de duas horas e vinte minutos de esforço concentrado e contínuo só de subida, quando ainda faltam cerca de quarenta minutos para alcançar o topo. O mais incrível é que chega haver acúmulo de excursionistas impedindo ou dificultando a livre escalada onde é necessário usar pés e mãos, o que embora razoavelmente fácil para uma pessoa “esperta”, pode assustar ou até mesmo apavorar os menos experientes.

Além de estar bem informado sobre o trajeto, gozando de boa saúde e preparo físico, hidratado e bem humorado, tome um bom café da manhã. Leve um lanche reforçado, mas de fácil digestão, para um dia de passeio. Evite tênis novo (melhor usado e resistente, um número maior) e não esqueça o material básico de primeiros socorros que inclui também papel higiênico. Leve saco plástico para retornar com o lixo produzido. Esse lixo deve ser descartado bem longe da trilha, num lugar onde você tem certeza absoluta que será coletado por um agente de limpeza pública.  Leve água suficiente para cerca de oito horas de caminhada (no mínimo três litros por pessoa).

São três horas de subida, cerca de duas horas de permanência no cume (se for explorar toda a área), mais três de descida. O responsável pelo passeio também é responsável pela segurança e integridade física de cada componente do grupo, embora a prática deste esporte de aventura seja considerada de risco. A informação contida abaixo na Carta do Montanhismo Brasileiro merece especial atenção dos guias de trilhas e empresas especializadas em turismo de aventura: 

- Montanhismo é o esporte de mover-se pelas montanhas, caminhando ou escalando, não havendo competição entre seus participantes, mas tão somente entre os homens e suas limitações ou dificuldades impostas pela natureza.
- O montanhismo pressupõe risco que não pode ser desprezado. O nível de segurança deve ser alcançado através da consciência desse risco e do aprimoramento técnico. A decisão do risco a ser assumido é individual, porém nenhum montanhista deve expor alguém a risco desconhecido.”

Acesso "Cabeça do Imperador" Pedro II. 
A “carta” acima deixa bem claro que jamais se deve tentar superar obstáculos encontrados na natureza, que estão muito além da nossa capacidade técnica, física e psicológica. Ou tentar convencer alguém a fazê-lo, expondo ao risco de acidente grave ou até mesmo fatal, como muitas das vezes acontece, para a infelicidade da vítima da pessoa irresponsável.      

Pedra da Gávea, com relação aos assaltos a grupos e outras preocupações negativas que pertencem aos tempos atuais, não foi sempre assim. Houve uma época na qual o verde dominava toda a paisagem onde está situada a Pedra até onde a vista humana podia alcançar. Do seu cume não se via favelas, edifícios, veículos motorizados, nem torres de transmissão de energia elétrica e sinal de celular. Tampouco poluição sonora para disputar audiência com os pássaros ou perturbar a paz das pessoas de bem. Havia sim, um espetacular teatro da natureza a céu aberto, com vegetação luxuriante que encheu de admiração o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) durante sua passagem pelo Rio de Janeiro de 4 de abril à 5 de  julho de 1832. A trilha da Pedra da Gávea foi uma das trilhas escolhidas pelo naturalista para a observação das mais variadas espécies da Mata Atlântica. A sua vivência durante essa excursão se sobrepõe a uma simples observação de campo para se transformar em um sentimento de profundo prazer e gratidão. Assim Darwin eternizou em seu diário de bordo, é emocionante, e o nosso Rio de Janeiro merece:

Charles Darwin (1809-1882) 
“Em outra ocasião, comecei cedo e caminhei em direção à montanha da Gávea. O ar estava deliciosamente fresco e perfumado, e as gotas de orvalho ainda cintilavam sobre as folhas das grandes liliáceas que sombreavam os riachos de água clara. Sentado sobre um bloco de granito, foi encantador observar os vários insetos e pássaros enquanto eles passavam á voar.
Seguindo por um caminho, entrei em uma nobre floresta e, de uma altura de 500 ou 600 pés, foi apresentada uma daquelas esplêndidas vistas, que são tão comuns em toda a região do Rio. Nesta elevação, a paisagem atinge seu tom mais brilhante; e cada forma, cada cor, supera tão completamente em esplendor tudo que o europeu já viu em seu próprio país, que ele não sabe como expressar seus sentimentos. O efeito geral freqüentemente me trazia a mente o cenário mais alegre de ópera ou dos grandes teatros.”

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Colaboração: Guia José Carlos Melo
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JESUS CRISTO é a nossa única esperança!