Pedra da Gávea e
Charles Darwin
A Pedra da Gávea de 843 m de altitude é um imenso bloco de pedra composto por granito e gnaisse, situado no setor C do Parque Nacional da Tijuca, entre as praias de São Conrado e Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, tornando-se um dos monólitos mais altos do mundo à beira mar. Segundo o professor e arqueólogo Carlos Manes Bandeira “sua configuração no frontal apresenta uma semelhança com um rosto humano portando longa barba, levando a ser chamada de Cabeça do Imperador (D. Pedro II)”. Possui ainda, esculpido pelo tempo, um componente intrigante provocado pela erosão natural que é uma das forças mais poderosas da natureza, o que deu origem a idéia de que fossem “inscrições fenícias”, mas que comprovadamente não o são.
O nome Pedra da Gávea remonta ao tempo das primeiras
expedições oficiais portuguesas enviadas ao Brasil pela Coroa, com o objetivo
de explorar a recém descoberta costa brasileira. Contam que para os navegantes
portugueses, a famosa pedra que termina no mar assemelhava-se ao cesto da gávea, onde sempre havia um
vigia de plantão. E por conta de sua localização e formato sempre foi uma
referência para os navegadores.
Lembra-se da expressão
“terra à vista!”? Uma das funções mais importantes no tempo das grandes
navegações era a do marujo. Instalado no “cesto da gávea”, no alto do mastro
principal das embarcações, além de buscar sinais de terra na linha do
horizonte, ele estava sempre atento para os perigos que pudessem surgir no mar,
como monstros, serpentes, sereias ou abismos. E aos ataques e assaltos de
embarcações inimigas no mundo visível. Portanto, “cesto da gávea” onde o vigia
devia ficar era um cesto de observação que passou simplesmente a ser chamado de
gávea.
Por outro ângulo, a
Pedra da Gávea quando observada a distância, assemelha-se a uma vela inflada
das embarcações utilizadas na era dos grandes descobrimentos. O Reverendo
Daniel Parish Kidder, missionário norte-americano que facilmente se apaixonou
pelas belas paisagens naturais do Rio de Janeiro, na primeira metade do século
XIX, prestou importante contribuição histórica quando escreveu sobre a origem
do nome Pedra da Gávea:
“Ao centro e a grande distância, vê-se um
imenso tronco de cone granítico. Vista a distância, essa montanha assemelha-se
à primeira vela de topo do mastro dianteiro dos veleiros, daí seu nome Gávea.” (Reminiscências de viagens e
permanência no Brasil, 1845.)
Um dicionário informal
confirma as palavras do Missionário Daniel Kidder. Em uma das duas definições
encontradas está escrito que gávea também
é o “nome de uma vela quadrada que ocupa o lugar imediatamente superior à vela
grande, de um navio veleiro. A gávea
é uma vela muito importante numa embarcação à vela.” Sendo assim, seria mais provável,
que a origem do nome não provenha do “cesto” da gávea, e sim da primeira “vela”
de topo do mastro dianteiro dos antigos veleiros.
Independente da origem exata do nome, pela sua altura, fama e
pelas paisagens de tirar o fôlego que proporciona aos freqüentadores da trilha íngreme
que leva ao seu topo, a Pedra da Gávea é um imponente monumento natural do
Brasil, cercado de lendas e fantasias. Triste, porém, é o fato de ser palco de muitos
acidentes fatais e, recordista, junto com a vizinha Pedra Bonita, de assaltos aos
excursionistas durante caminhadas realizadas aos sábados e domingos, sem que
uma solução definitiva seja encontrada por parte das autoridades públicas e da administração
do Parque.
É importante destacar, que o cuidado de não andar sozinho
pode não ser uma tática eficiente para impedir a abordagem de criminosos
armados de revolver e facão. Essas quadrilhas que atuam nas trilhas mais
freqüentadas por turistas são especializadas em assaltar grupos para
conseguirem o maior lucro possível.
Cabeça do Imperador - Pedra da Gávea. |
Antes de decidir por qualquer trilha no Rio de Janeiro, o
excursionista tem que se informar para não se meter numa triste aventura, e ser
mais um na estatística da violência no Rio. Agora, se você pretende ser um
freqüentador assíduo das trilhas cariocas procure manter-se atualizado sobre quais
trilhas estão mais seguras para se fazer a caminhada de baixo risco. Não existe trilha 100% segura na querida
Cidade Maravilhosa, infelizmente. Aguardamos dias melhores.
Além de recordista em assaltos, a Pedra da Gávea, sempre foi
palco de muitos acidentes graves e vários escaladores lá perderam a vida quase sempre
motivados pela desatenção, faltas de preparo físico, agilidade e percepção de
risco. No caso da trilha bem íngreme que começa na Barra da Tijuca com cerca de
2.600 m de extensão, obstáculos rochosos e “escalaminhada”, é o total desconhecimento
de técnica de escalada em rocha e a baixa tolerância para exposição demorada à
altura no trecho mais difícil do trajeto, que é a famosa “carrasqueira”.
Carrasqueira - Pedra da Gávea - RJ |
Além de estar bem informado sobre o trajeto, gozando de boa
saúde e preparo físico, hidratado e bem humorado, tome um bom café da manhã. Leve
um lanche reforçado, mas de fácil digestão, para um dia de passeio. Evite tênis
novo (melhor usado e resistente, um número maior) e não esqueça o material
básico de primeiros socorros que inclui também papel higiênico. Leve saco
plástico para retornar com o lixo produzido. Esse lixo deve ser descartado bem
longe da trilha, num lugar onde você tem certeza absoluta que será coletado por
um agente de limpeza pública. Leve água
suficiente para cerca de oito horas de caminhada (no mínimo três litros por
pessoa).
São três horas de subida, cerca de duas horas de permanência
no cume (se for explorar toda a área), mais três de descida. O responsável pelo
passeio também é responsável pela segurança e integridade física de cada componente
do grupo, embora a prática deste esporte de aventura seja considerada de risco.
A informação contida abaixo na Carta do Montanhismo Brasileiro merece especial
atenção dos guias de trilhas e empresas especializadas em turismo de aventura:
- Montanhismo é o esporte de mover-se pelas montanhas,
caminhando ou escalando, não havendo competição entre seus participantes, mas
tão somente entre os homens e suas limitações ou dificuldades impostas pela
natureza.
- O montanhismo pressupõe
risco que não pode ser desprezado. O nível de segurança deve ser alcançado
através da consciência desse risco e do aprimoramento técnico. A decisão do
risco a ser assumido é individual, porém nenhum montanhista deve expor alguém a
risco desconhecido.”
Acesso "Cabeça do Imperador" Pedro II. |
Pedra da Gávea, com relação aos assaltos a grupos e outras
preocupações negativas que pertencem aos tempos atuais, não foi sempre assim. Houve
uma época na qual o verde dominava toda a paisagem onde está situada a Pedra
até onde a vista humana podia alcançar. Do seu cume não se via favelas,
edifícios, veículos motorizados, nem torres de transmissão de energia elétrica
e sinal de celular. Tampouco poluição sonora para disputar audiência com os
pássaros ou perturbar a paz das pessoas de bem. Havia sim, um espetacular
teatro da natureza a céu aberto, com vegetação luxuriante que encheu de
admiração o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882) durante sua passagem
pelo Rio de Janeiro de 4 de abril à 5 de julho de 1832. A trilha da Pedra da Gávea foi
uma das trilhas escolhidas pelo naturalista para a observação das mais variadas
espécies da Mata Atlântica. A sua vivência durante essa excursão se sobrepõe a uma
simples observação de campo para se transformar em um sentimento de profundo
prazer e gratidão. Assim Darwin eternizou em seu diário de bordo, é emocionante,
e o nosso Rio de Janeiro merece:
Charles Darwin (1809-1882) |
Seguindo por um caminho, entrei em uma nobre floresta e, de
uma altura de 500 ou 600 pés, foi apresentada uma daquelas esplêndidas vistas,
que são tão comuns em toda a região do Rio. Nesta elevação, a paisagem atinge
seu tom mais brilhante; e cada forma, cada cor, supera tão completamente em
esplendor tudo que o europeu já viu em seu próprio país, que ele não sabe como
expressar seus sentimentos. O efeito geral freqüentemente me trazia a mente o
cenário mais alegre de ópera ou dos grandes teatros.”
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Colaboração: Guia José Carlos Melo
Colaboração: Guia José Carlos Melo
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JESUS CRISTO é a nossa única esperança!